(imagem Maria Fernanda De Biaggi)
Sempre que ultrapassamos os
portões de entrada da Cinemateca,
experimentamos uma viagem aos sentidos mais profundos. É o início de uma
aventura com descobertas pela história perdida, onde o olhar é conduzido pelo
eco dos sons que vem do passado.
Suas paredes estão de pé desde 1887,
no Largo Senador Raul Cardoso, na Vila Clementino em São Paulo, nesta época o
endereço pertencia ao imponente Matadouro
Municipal e ainda não se via nenhum filme por lá. A construção do Matadouro foi uma das mais importantes
obras feitas naquele tempo, e foi considerada por arquitetos, como a segunda
construção de São Paulo, porque desenvolveu muito a região com linhas de bonde,
construídas para facilitar a ligação com a Vila Mariana. O Matadouro abastecia a comilança da cidade inteira e também era um
espaço ritualístico, alguns moradores do bairro se reuniam ali muitas vezes,
para ver o abate dos animais e bebericar do seu sangue, pois acreditavam trazer boa saúde. Em 1927 o monumental prédio do Matadouro foi fechado e mais tarde, em
1983, tombado como patrimônio histórico.
Mas foi só em 1992, quando a
Prefeitura cedeu o edifício histórico do Matadouro
Municipal à Cinemateca Brasileira
, que as histórias se cruzaram e os galpões que antes abrigavam as boiadas, foram
tomados pela arte em película.
(imagem Maria Fernanda De Biaggi)
O projeto de restauração foi
comandado pelo arquiteto Nelson Dupré e transformou o Matadouro em Cinemateca,
sem descartar suas características originais, provocando um encontro encantador
entre os mundos. Isso fica muito claro quando olhamos ao redor. Num dos salões de eventos, enquanto se visita
alguma exposição, existe um piso de vidro e é possível ver abaixo, os trilhos
por onde passavam os animais que seriam abatidos. São imagens que vão mixando
diversas sensações no visitante.
Para as exibições de filmes, dois
galpões foram reestruturados para receber a Sala
Cinemateca/Petrobrás e a Sala
Cinemateca/BNDES, circularam por lá no ano passado, mais de 60 mil
espectadores, que se dividiram entre Mostras e Atividades, explorando esse
ambiente antropofágico.
Reconhecida por sua
grandiosidade, a Cinemateca Brasileira
possui o maior acervo de material audiovisual da América Latina, são 200 mil
rolos de filmes, além dos arquivos de documentos como, roteiros originais,
livros, revistas, fotografias e cartazes, um verdadeiro santuário da sétima
arte.
A trajetória de importantes
cineastas brasileiros, também está cravada nesses muros históricos. É o caso de
Jairo Ferreira, um devorador de filmes, que foi o criador do Cinema de
Invenção. Ele gostava de dizer que sequestrava a Cinemateca com um bando de amigos, para suas inspirações e
exibições.
Percorrer esse espaço mágico,
inevitavelmente, surpreende. Vida longa à Cinemateca
Brasileira!
Que deliciosa riqueza cultural!
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