quinta-feira, 16 de maio de 2013

Jairo Ferreira


O Cinema de Invenção de Jairo Ferreira


Quando um autor de cinema busca sua criação ele corre muitas vezes aflito numa solidão cósmica. Ele vasculha os mais inóspitos espaços de uma mente universal e faz conexões galácticas, encontrando estrelas de toda parte.

Assim chegamos a Jairo Ferreira, o cineasta-vampiro-cinéfilo-crítico, um dos maiores entusiastas do Cinema Marginal, que ele mesmo batizou de Cinema De Invenção.

Jairo nasceu em São Paulo, em agosto de 1945. Sua primeira paixão foi a música, mas em 1963 começou a frequentar o G.E.F. (Grupo de Estudos Fílmicos), onde conheceu o poeta Orlando Parolini, que foi seu guru. Era o começo de uma nova era, que contestaria o Cinema Novo de Glauber Rocha.

O Cinema de Invenção ou Marginal começou em 1967, em São Paulo, mais precisamente na Rua do Triunfo, no bairro da Luz, também conhecida como Boca do Lixo.

Era ali que se encontravam cineastas, produtores, diretores e realizadores, figuras como: José Mojica Marins (Zé do Caixão), Rogério Sganzerla, Ozualdo Candeias, Carlos Reichenbach e, é claro, Jairo Ferreira.

O movimento que não era movimento foi rotulado também como Udigrudi (variação carinhosa para Underground), mas era na verdade um cinema independente, alternativo e experimental. Criado a partir da sintonia poética e do desejo revolucionário da contracultura.

A linguagem da invenção era feita de filmes artesanais, que na sua produção gastavam praticamente só o dinheiro do material (negativo, revelação e câmera).

“Chupo filmes para renovar meu sangue”, decreta Jairo Ferreira, como autor-personagem em seu filme mais importante “O Vampiro da Cinemateca”, de 1977.

Filmar filmes que filmam filmes era a melhor expressão para definir as obras cinematográficas deste invencionista, que fazia de suas criações uma ampliação do seu amor e da sua reflexão sobre o cinema.
Jairo tinha uma admiração crônica pelo cinema e foi um grande autodidata, aprendendo tudo em sua vivência com os colegas da Boca do Lixo, além das lições antropofágicas de Oswald de Andrade, que foi uma inesgotável fonte de inspiração.

As criações de Jairo tinham a inconfundível característica de fusão de gêneros (experimental, documentário e ficção). Ele se apropriava de signos e criava novos sentidos e significados. Sua alma transgressora tinha especial gosto pelo choque e pelas temáticas fortes.

“Nem Verdade Nem Mentira”, de 1979, é visto como um filme que resolve duas obsessões de Jairo: Rogerio Sganzerla e Orson Welles. O curta-metragem conta os conflitos de uma jornalista após cada texto que escreve. Filmado em 35 mm, essa obra mostra uma troca muito
intensa, desenhando despretensiosamente o universo caótico de Jairo, que também foi colunista de alguns jornais.

Em 1986, Jairo Ferreira publica o livro “Cinema de Invenção”, onde escreve sobre cineastas brasileiros que considera experimentais (Mário Peixoto, Glauber, Mojica, Candeias, Sganzerla e Bressane). Após o lançamento do livro, acontece a primeira mostra de Cinema de Invenção (86/87), produzida por Júlio Calasso Jr.

No início de 2000, ele começa a escrever um romance autobiográfico, chamado “Só por Hoje”, mas o livro não chega a ser concluído. Fomos todos surpreendidos por sua morte inexplicável em 23 de agosto de 2003, horas antes de completar 58 anos.

Sobre a fase do cinema nacional, que considerava medíocre na época, Jairo Ferreira disparou: “Somos hoje uma indústria sem chaminés, embora se fume muitos charutos”.

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